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No Brasil, país marcado pela desigualdade social, a falta de investimento e o acesso desproporcional ao tratamento são os principais desafios da saúde mental. Números globais chamam a atenção para o papel do trabalho nesse contexto

 

O aumento da exposição das pessoas a fatores de risco ou estressores — como características biológicas, sociais, econômicas e culturais, assim como o envelhecimento da população em muitas partes do mundo —, resultou em um aumento de 30% na prevalência global de condições de saúde mental desde 1990. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS), consolidados no relatório Caminhos em Saúde Mental. No Brasil, onde as condições de vida estão abaixo da média mundial em alguns aspectos, o impacto negativo na saúde mental da sua população é inevitável. 

Com taxa de desemprego de 8,8% no primeiro trimestre de 2023, muitos brasileiros enfrentam a angústia e a incerteza de não terem uma fonte de renda estável. Além disso, o salário médio de R$ 2.853 e o endividamento, que atinge 78,3% das famílias brasileiras, deixam muitas delas em uma condição de vulnerabilidade financeira, aumentando o estresse e a ansiedade.

Além dos desafios econômicos, problemas sociais também pesam sobre a saúde mental dos brasileiros. A falta de saneamento básico, por exemplo, deixa 100 milhões de pessoas sem rede de esgoto e 35 milhões sem acesso à água potável, criando um ambiente insalubre e inseguro. A baixa escolaridade é outro fator relevante. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2022, 5,6% da população com 15 anos ou mais no Brasil não sabia ler ou escrever, totalizando 9,6 milhões de pessoas. A falta de habilidades básicas de leitura e escrita limita o acesso a oportunidades educacionais e profissionais, o que pode levar a sentimentos de inadequação e frustração.

O tempo de lazer também merece atenção. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que o brasileiro gasta, em média, duas horas diárias de lazer diante de telas. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode afetar negativamente o bem-estar mental, contribuindo para o sedentarismo, a falta de interação social e o isolamento.

Todas essas condições adversas contribuem para a situação preocupante da saúde mental no Brasil. Não por acaso o país é considerado o mais ansioso do mundo, de acordo com a OMS. Além disso, o Brasil possui a maior prevalência de depressão na América Latina e é o segundo país com maior prevalência nas Américas, segundo a mesma organização. 

Essa realidade tem consequências devastadoras. Ainda conforme o relatório publicado pelo Instituto Cactus, pessoas com transtornos mentais graves apresentam taxas muito altas de mortalidade, vivendo em média de 10 a 20 anos a menos do que a população em geral. Além disso, têm maior probabilidade de morrer por causas não naturais, como suicídio, homicídio, acidentes e fatores de risco para doenças não transmissíveis.

Diante desse panorama, torna-se urgente a necessidade de abordar a saúde mental como uma questão prioritária no Brasil. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ela deve estar no topo da agenda política pós-COVID-19, mesmo diante dos desafios, que são muitos!

 

Falta investimento e sobra desigualdade: desafios da saúde mental no Brasil

Atualmente, menos de 2% do orçamento de saúde é destinado à saúde mental, enquanto a OMS recomenda que pelo menos 6% dos recursos sejam direcionados para essa área. A escassez de investimentos compromete a capacidade do sistema de saúde de fornecer serviços de qualidade e acesso adequado a tratamentos e cuidados para pessoas com transtornos mentais.

Dados consolidados pelo Ministério da Saúde até 2014 mostram ainda uma grande variação na implantação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) entre as diferentes regiões do Brasil. As regiões Norte e Centro-Oeste apresentavam os piores indicadores de cobertura, com apenas 0,61 e 0,66 CAPS por 100 mil habitantes, respectivamente, enquanto a região Sul, que tem o melhor indicador, conta com 1,07 CAPS por 100 mil habitantes. 

Esses desafios enfrentados pela saúde mental no Brasil, que não são os únicos, exigem uma abordagem sistêmica. Deve ser prioridade aumentar os investimentos no setor e garantir uma distribuição equitativa dos serviços em todo o país. Outra proposta importante para enfrentar esse desafio é promover políticas e programas de saúde mental no mundo do trabalho, afinal, de acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), houve um aumento no número de afastamentos relacionados a transtornos mentais e, de novo segundo a OMS, estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho sejam perdidos anualmente no mundo devido à depressão e à ansiedade, custando à economia global quase 1 trilhão de dólares. 

Nesse sentido, iniciativas como o Zenklub buscam suprir as necessidades de apoio na área de saúde mental. O serviço, especializado em saúde emocional e bem-estar corporativo, oferece aos colaboradores das empresas que o contratam sessões de terapia online e conteúdos educativos, além de consultoria baseada em dados para que os RHs das organizações possam tomar decisões sobre o assunto. Fundada em 2016, impacta hoje 1,5 milhão de pessoas por mês e atende mais de 400 companhias. Uma pesquisa realizada pela empresa mostrou que colaboradores que utilizam a plataforma tendem a permanecer 30% a mais de tempo nas empresas, o que evidencia os benefícios tanto para o bem-estar dos indivíduos quanto para a produtividade e retenção nas organizações. 

É óbvio que a discussão sobre o benefício de soluções como esta deve considerar também a forma como atendem às normas regulatórias do segmento e como garantem a valorização dos profissionais envolvidos e a privacidade dos dados dos usuários, questões que não serão detalhadas aqui, mas foram ponderadas para a redação deste texto.

 

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